A consciência fonológica é a capacidade de compreender a maneira pela qual a linguagem oral pode ser dividida em componentes cada vez menores: frases em palavras, palavras em sílabas e sílabas em fonemas (Carvalho & Alvarez, 2000 e Ferreiro et al., 2003).
A consciência fonológica inclui a capacidade de identificação, manipulação, combinação, isolamento e segmentação dos fonemas (sons da fala). No caso da língua portuguesa, existem trinta e um fonemas – doze relativos às vogais e dezanove relativos às consoantes.
Até aos três anos, a criança desenvolve a capacidade de distinguir os sons da fala (discriminação auditiva).
Antes da compreensão do princípio alfabético, a criança deve perceber que os sons que se associam às letras, são os mesmos sons da fala. No entanto, para algumas crianças, este processo não é natural e precisam da ajuda de um Terapeuta da Fala.
O desenvolvimento da consciência fonológica
O desenvolvimento da consciência fonológica está dependente dos estímulos linguísticos, do desenvolvimento cognitivo e intelectual da criança e da exposição ao sistema alfabético para a aquisição da leitura e da escrita.
Normalmente, a consciência fonológica processa-se da seguinte forma:
- Até aos três meses: a criança consegue detetar o som da voz materna;
- Dos três aos seis meses: dirige a cabeça em direção a uma fonte sonora;
- Dos nove aos treze meses: começa a compreender que a fala consiste numa sequência de sons e tenta imitar as pessoas que a rodeiam. Começa a produzir as primeiras palavras;
- Dos trinta aos trinta e seis meses: diferencia todos os sons da sua língua e autocorrige o seu discurso;
- Dos três aos quatro anos: divide palavras simples em sílabas e identifica rimas;
- Aos cinco anos: identifica sons em palavras;
- Aos seis anos: já adquiriu as capacidades referidas anteriormente. No entanto, ainda tem dificuldades ao nível da consciência fonémica, uma vez que ainda não iniciou o processo de aprendizagem da leitura e da escrita. A aquisição da consciência fonémica é bastante importante, pois é a base da aquisição da escrita e da leitura;
- A partir dos seis anos (após a entrada no 1.º ciclo): domina todos os níveis da consciência fonológica.
A consciência fonológica influencia a aquisição da leitura e da escrita. Sendo assim, é fundamental que, quando ingressa no 1.º ciclo, a criança tenha adquirido competências a este nível. Todavia, algumas crianças concluem o ensino pré-escolar sem o conseguir. Nestes casos, podem surgir perturbações na literacia, que vão afetar a aprendizagem (a nível geral) e, por conseguinte, o sucesso escolar.
É bastante importante que os pais e os professores estejam atentos aos sinais de alerta e, assim, poderem encaminhar a criança para a Terapia da Fala.
Sinais de alerta:
- Pré-escolar:
- Começar a falar tarde;
- Discurso muito infantilizado (“falar à bebé”);
- Dificuldade em produzir as palavras corretamente;
- Dificuldade em aprender e decorar canções, rimas e lengalengas;
- Antecedentes familiares de fala tardia e alterações da linguagem e/ou fala.
- º ano:
- Dificuldade em discriminar os fonemas (por exemplo, a criança não percebe a diferença entre “cola” e “gola”);
- Dificuldade em dividir frases em palavras;
- Dificuldade em dividir palavras em sílabas;
- Dificuldade em dividir sílabas em fonemas;
- Dificuldade em associar o fonema à sua letra correspondente;
- Dificuldade na leitura de palavras;
- Produzir erros ortográficos (escrita).
Se o seu filho ou aluno demonstrar algum destes sinais, procure um Terapeuta da Fala.
É crucial que a criança com dificuldades ao nível da consciência fonológica tenha terapia, para evitar problemas de aprendizagem.
Sofia Gonçalves – Terapeuta da Fala