Partilho algumas concetualizações teóricas e práticas com o objetivo de disseminar informação e normalizar alguns comportamentos e pensamentos associados à conjugalidade. A relação conjugal é commumente compreendida como um processo de organização complexo, contínuo e dinâmico entre duas individualidades que constroem uma identidade conjugal.
Estas individualidades – “Eus” – transportam uma multiplicidade de particularidades específicas, especiais e únicas. São elas que tornam cada ser humano sui generis, irrepetível e encantador. No “passaporte de viagem” existe uma naturalidade, um grau de vinculação, uma história, muitas experiências, uma cultura social e familiar própria, bem com ritmos e rituais, crenças e preconceitos, modelos e referências, necessidades e expectativas, temperamentos e personalidades…
A conjugalidade é na realidade uma estrutura sócio-familiar (re)criada pelo desejo, pela intenção e pela motivação fundamentados num padrão emocional idealizado, cujo alicerce é o Amor Romântico.
A durabilidade e a qualidade relacional é na minha opinião proporcional ao aprofundamento interior harmonioso de cada individualidade.
Quantas vezes projetamos e espelhamos no outro “desejos”, “medos”, “expectativas”, refletindo padrões de comportamento próprios que se repetem e propagam? Identificamos no outro modelos comunicacionais disruptivos, muitas vezes por replica, condicionamento ou reforço vicariante? Quantas vezes reproduzimos ou afastamo-nos de padrões abnegados a uma geracionalidade que teima em persistir?
E, quantas vezes paramos para refletir nas causas e nas raízes que nos ligam ao passado, impedindo-nos de usufruir do presente. Pois, apenas no presente podemos agir!
Quantas vezes nos imiscuímos nas múltiplas tarefas do quotidiano, adiando diálogos e partilhas importantes.
E quando é que paramos para manifestar as nossas necessidades e desejos na relação conjugal?
Pois, estes surgem muitas vezes camuflados, mudam de cor como o camaleão e dificilmente são encontrados pelo outro. O que manifestamos através de diálogos acesos e inflamados, impulsivos, pouco lógicos e até irracionais…. São o oposto do que gostaríamos ou pretendíamos dizer. Contudo o nosso “cérebro” malabarista diz-nos que temos de nos defender (agimos assim em função do nosso cérebro primitivo/reptiliano), muitas vezes reagindo e não respondendo ajustadamente. Surge a dificuldade na regulação emocional e comportamental que se vai agudizando, tanto mais quanto o par conjugal possibilitar a criação de um espaço intergaláctico desprovido de vitalidade emocional.
Assim, sugiro que possamos cuidar das nossa galáxias através de uma consciencialização crescente dos nossos padrões de comportamento, das nossas emoções e dos nossos pensamentos, numa lógica de completude, compromisso e na direção dos valores conjugais. Cientes de que a conjugalidade é um mesclar de intenções, desejos e necessidades que se vão modelando e ajustando, mas não fundindo ou sobrepondo.
Algumas estrelas:
Comunicação, diálogo, partilha, respeito, desenvolvimento pessoal, análise intra-pessoal, identificação das dificuldades, expectativa e necessidades conjugais, confiança, coragem, resistência.
Susana Amaral – Psicóloga Clínica