Educação, Psicologia

Regresso às Aulas

O término das férias e a entrada para o 1º ciclo…

E depois do período de férias as famílias preparam-se para a entrada na escola. Qualquer ano de escolaridade implica uma mudança, uma nova etapa, um novo desafio colocado a toda a família. Mas o ingresso no 1º ciclo é uma fase assinalável na vida familiar e no percurso de desenvolvimento de qualquer criança. É nesta etapa de desenvolvimento que a criança expande o seu ambiente de interação, amplia os contactos e relações interpessoais. Aos seis anos demonstra a sua preferência pelos amigos do mesmo sexo, revela-se mais independente, a sua linguagem é fluente e mais complexa (aplica adequadamente os pronomes, os tempos verbais e o plural), a preferência manual está definida. Já é capaz de esperar pela sua vez e consegue partilhar, sendo mais autónoma nas brincadeiras. Obviamente, os padrões de desenvolvimento não são taxativos, estão amplamente dependentes do grau de maturidade de cada criança. Não podemos esquecer que cada criança é única, sendo o seu crescimento específico e influenciado pelo seu padrão genético e ambiente envolvente. Daí que o ingresso no primeiro ciclo não obedeça a uma idade rígida mas aos parâmetros de desenvolvimento (emocional, intelectual, motor e social) atingidos pela criança, os quais definem o seu perfil de competências para a aprendizagem escolar (num sentido mais formal).


Durante as férias decerto ouviram os avós, uma vizinha, uma madrinha: “agora é que vai ser… já vai para a escola”. Muitas vezes estas expressões acarretam uma certa conotação negativa, quer pelo conteúdo, quer pela entoação. Um certo receio, uma transposição de medos, um aflorar de memórias e experiências pessoais emergem e transmitem à criança uma “nuvem de insegurança”. Afinal, elas percebem muito bem as mensagens subliminares! Evite estes comentários, ou transforme-os em mensagem positiva de alento, descoberta, crescimento e aprendizagem!

Qualquer mudança, quebra na rotina, período de transição implica inevitavelmente um “sopro” de ansiedade, uma “brisa” de medo, uma “lufada” de angústia. Surgem umas borboletas na barriga, as pernas ficam trémulas e a voz, por vezes, teima em não sair. Acontece quando muda de emprego, até mesmo quando reinicia atividade após um período de pausa. Cabe aos adultos de referência (pais, cuidadores) promoverem um ambiente tranquilizante e estimulante para novos desafios e aprendizagens. Afinal é, apenas, uma entre muitas outras etapas de desenvolvimento e crescimento pessoal e social. Partilhar experiências e memórias positivas, bem como histórias e contos que transmitam mensagens de confiança e deixem antever bons momentos de brincadeira e aprendizagem pode ser muito enriquecedor e positivo. Na realidade a criança continua a necessitar de se exprimir, vivenciar e experienciar a vida através do brincar.


Esta é uma fase de alguma ambivalência, quando pensamos na importância do brincar e na necessidade da criança desenvolver o sentido de responsabilidade. Pois, com o ingresso na escola ela precisa de começar a associar a importância de realizar as tarefas escolares com gosto e progressiva precisão, a uma forma positiva de crescer, aprender e alcançar objetivos “bons”. A família nuclear pode envolver a criança cada vez mais em atividades de realização doméstica, permitindo que ela se sinta capaz, competente e valorizada, favorecendo o desenvolvimento “responsável” de pequenos processos (inicio, desenvolvimento e conclusão).
As regras e os limites claramente definidos, continuam a ser um ótimo aliado da disciplina e do comportamento assertivo, bem como o estabelecimentos de rotinas. Estas são estruturantes e securizantes para a criança. O diálogo compreensivo é uma “ferramenta” imprescindível, pois favorece a ligação afetiva/emocional, promove conexões de informação e compreensão fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, bem como para o processo de individualização e de promoção do desenvolvimento moral. Portanto, converse! Com uma linguagem ajustada ao nível de compreensão da criança e de forma consistente com os modelos de referências e padrões familiares. Na realidade não existem regras, apenas sugestões positivas que se devem ajustar às expectativas e base cultural do clã.

Para uma “confeção” positiva, estável, integradora e feliz não pode faltar o ingrediente principal – Muito Amor! Depois é tranquilizar e confiar. Não existem pais/cuidadores perfeitos, existem pais/cuidadores com muito amor!

Psicóloga Susana Amaral